Da Redação
26 de julho de 2014A idade da maturidade aproxima-se inexoravelmente. Dizem que o homem, aos quarenta anos, passa por um período de profundo exame interior e, a partir dos resultados desse exame, busca novos desafios vitais, sintetizado pela máxima “a vida começa aos quarenta”. Na última semana, meu filho mais velho perguntou-me: “pai, o que você fez até hoje que resume o que você é?”. Respondi imediatamente: “Ler. E vou continuar me resumindo lendo”.
Hoje, para a geração twitter-tablet-smartphone, ler parece um exercício extraordinário, entediante e digno de sugar os miolos do cérebro. Não me estranha. Na minha juventude, para meus pais, a televisão, além de concorrente da leitura, era uma espécie de “a casa do capeta”. Olhando em perspectiva, comento com meus pais que eu tinha razão: naquela época, o máximo que a televisão conseguiu foi deixar uma boa pessoa alienada, a julgar pelos amigos daquele período com os quais ainda mantenho contato. Justamente porque eles não tinham o hábito da leitura para fazer o contraponto aos enlatados made in USA que entupiam a grade de programação dos canais.
Nunca é demais refletir sobre o lugar do livro e da leitura no mundo atual. Atualmente, mais que no passado, onde a televisão reinava sozinha, é indispensável que se proporcione, desde a aprendizagem mais elementar, uma verdadeira educação do gosto pela leitura, à luz da ativa valorização do rico patrimônio literário universal.
Por intermédio do livro, todos aprendemos a ler e a contar, a escrever e a pensar; pelo livro, aprendemos a conhecer os grandes pensadores e os escritores clássicos; pelo livro, aprendemos a conhecer os grandes textos sagrados; pelo livro, aprendemos as lições da história e os avanços da ciência; pelo livro, aprendemos os perenes valores que sempre regeram as sociedades em todos os tempos; pelo livro, aprendemos a sonhar outros mundos; pelo livro, aprendemos a rir, a chorar, a rezar e a amar; pelo livro aprendemos descobrir o que nos cerca; pelo livro, enriquecemos nossa linguagem, alimentamos uma fome de imaginário e educamos nossas emoções; no fundo, pelo livro, descobrimo-nos a nós próprios.
O livro e a leitura são instrumentos essenciais de exercício de inteligência, comunicação e informação. Afinal, o livro e a leitura moldaram definitivamente a nossa memória e identidade individuais e coletivas, bem como a nossa visão do mundo.Aliás, nunca repetimos a leitura de um mesmo livro, porque sempre somos diferentes no ato concreto da leitura. Gosto muito de uma definição de livro de Romano Guardini: um pequeno objeto irrepetível e cheio de mundo.
Em minha profissão, ler é muito importante para uma melhor expressão oral e escrita, comunicação, capacidade argumentativa e, de certo modo, maior expectativa de vida, afinal, como dizia Popper, convém que as opiniões enfrentem-se para que as pessoas não tenham que se enfrentar… Um homem lido é um homem mais maduro e mais livre, porque sabe ter uma posição crítica diante da realidade da vida. É por isso que, no passado, governos ditatoriais, regimes totalitários e fundamentalismos religiosos sempre buscaram queimar livros: como dizia um poeta alemão do começo do século XIX, uma sociedade que começa queimando livros acaba por exterminar pessoas. Dito e feito.
Ler, definitivamente, é uma necessidade existencial do espírito humano. Solitária, íntima e silenciosa: uma solidão, uma intimidade e um silêncio vibrantes, porque animados pela vida da palavra.Sem dúvida, nos dias atuais, se, para muitos, ler ou não ler é uma tremenda questão, para mim, é a melhor solução. Não a solução final, porque ainda me resta saber se o paraíso celestial será algum tipo de biblioteca com uma eternidade para devorá-la. Com respeito à divergência, é o que penso.
André Gonçalves Fernandes é juiz de direito, mestre em filosofia e história da educação, pesquisador, professor do IICS-CEU Escola de Direito, membro da Comissão Especial de Ensino Jurídico da OAB/SP e coordenador do IFE CAMPINAS(agfernandes@tjsp.jus.br).
18 de fevereiro de 2021
24 de fevereiro de 2021
1 de março de 2021
24 de fevereiro de 2021
28 de fevereiro de 2021
25 de fevereiro de 2021
11 de fevereiro de 2021
28 de fevereiro de 2021
12 de fevereiro de 2021
1 de março de 2021
Flagrou algo inusitado e quer ver a sua notícia publicada? Nos envie seus textos, fotos e vídeos.
Os textos e comentários aqui expressos são de total responsabilidade de seus autores.