Lucas Valério
13 de setembro de 2014No último capítulo de suas histórias no Boteco, o dirigente da Santa Luzia, Walter Gomes, o Carneiro, relembra o único título do clube da Primeira Divisão, conquistado em 1986, em final diante da Santa Cruz.
Boteco – Quem era o craque da Santa Luzia campeã?
Carneiro – Tinha bastante. O maior era o Davi Setim, tinha o TG, o Jorge Baiano, o Binha.
Boteco – O que o senhor recorda da decisão?
Carneiro – Eu era o técnico, eu e o Miranda. Ele era juiz, foi técnico nosso. Eu estava expulso.
Boteco – O senhor ficava nervoso nos jogos?
Carneiro – Amanhecia pra rua, aquele tempo era doido, só tomando pinga. Quando nós fomos campeões, eu levantei 5 horas da manhã, 35 pingas na hora do jogo. Como presidente, eu pegava fazia a volta no campo, passava no bar do Mirante, tomava uma pinga, chegava na torcida da Santa Luzia, tinha quatro, cinco garrafões, tomava outra pinga, ia fazendo a volta, xingando o campo inteiro. Eu tava expulso, porque fui expulso injustamente perto da final. Acabou o jogo, ganhamos.
Boteco – Depois o senhor entrou para pegar o troféu?
Carneiro – Depois entramos, fizemos a festa, quebramos a arquibancada lá, aquele alambrado derrubamos, ficamos segurando. A hora que o juiz terminou, caiu tudo.
Boteco – Como foi a festa da torcida?
Carneiro – Naquele tempo, a torcida da Santa Luzia, a gente pegava o caminhão e ia para a cidade inteira, para a Vila Dias, Tucura, comemorar. Gritando, a cidade inteira, até de madrugada, na rua, no bar. Umas 4 mil pessoas, enchemos a rua da Santa Luzia. Cheguei lá, a negada com garrafão de pinga. Joguei o garrafão para cima, caiu no chão. A negada: “o louco, acabou a pinga”. “Nossa, não tem mais?”. Aí saímos buscar pinga pra outro lado.
Boteco – Não tomavam cerveja?
Carneiro – Mais antigamente não era muita cerveja, era mais pinga mesmo. Mas naquela época já tinha, nós ganhamos 10 caixas de cerveja, aí a negada ia bebendo até amanhecer o dia. Quando era 1 hora da manhã eu fui embora, não aguentei mais.
Boteco – É muito difícil lidar com os jogadores?
Carneiro – Agora é, você vai montar um time, o cara já pede dinheiro. Antigamente, você ia na rua: “assina pro Santa Luzia”. O cara assinava. Era uma beleza. Sabe aquela mureta do Tucurão? Aquela mureta fui com o Seo Antonio Zuza que fizemos, dinheiro do nosso bolso. Aquele tempo, a Prefeitura não ajudou não.
Boteco – Como vocês faziam para pagar, arrecadavam?
Carneiro – Pagava do nosso bolso e eu mesmo construía, eu era pedreiro. Lá embaixo, aquelas muretas, o muro inteiro.
Boteco – Antes eram mais jogadores do bairro?
Carneiro – A maioria, no ano que nós fomos campeões só tinha dois jogadores de fora, o Deda e o Brigo. E o goleiro que era profissional.
Boteco – Como era sua maneira de falar com os jogadores no vestiário?
Carneiro – Se o jogador machucasse hoje, no domingo que vem se ele voltasse para jogar, eu saía do vestiário e fazia ele correr para ver se ele estava mancando. Se ele desse um deslize, não jogava. Nego ficava bravo, saía brigando que queria jogar, mas eu não dava moleza.
Boteco – Valeu, Carneiro!
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